sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Ok,Pedro.


Não adianta querer vir se desculpar pelo que você aprontou ontem. Logo eu que sempre gostei tanto de você, que sempre me senti lisonjeada por você escutar todos os meus pedidos; logo eu, logo comigo, Pedro. Porque?
Eu sei que nessas últimas semanas reclamei muito de você, devo até ter te tratado mal algumas vezes, mas nada disso justifica o seu erro. Na verdade, hoje tô achando que até fiz pouco em ter te xingado um monte essa semana por você ter atrapalhado a minha vida toda. Por sua culpa eu cheguei atrasada no trabalho, por sua culpa aquele ônibus não anda, por sua culpa meu chefe tá começando a me estranhar. Você acha isso pouco?
Não é possível que você não preste atenção na hora em que eu saio do trabalho, ou na hora em que eu vou almoçar, ou, ainda, na hora em que eu saio da faculdade. Pedro, eu não fico batendo perna à toa na rua todos os dias pra você fazer de mim o que bem entender não,viu?
Definitivamente cansei de você. Não espere mais de minha parte nenhum tipo de elogio, nem nenhum pedido de manifestação sua, nem nada. Ontem foi o último dia em que eu deixei você fazer de mim o que bem entendesse. A partir de hoje nossas relações estão cortadas ou, falando na sua língua, minha admiração por você foi por água abaixo no meio daquela chuva toda que você aprontou.
Guarda chuva eu tenho,Pedro. O que anda me faltando é paciência com você. Eu saí da faculdade, do outro lado da cidade, às 10 d anoite, morta de cansada e ainda tive que aguentar aquele aguaceiro seu. Alguma vez você já ficou numa parada às 10 da noite praticamente tomando um banho a cada carro que passava, Pedro? Alguma vez você já entrou num ônibus todo molhado e teve a sensação de que as pessoas te olhavam como se você tivesse acabado de sair de uma guerra? Acho que não.
Daqui a pouco eu tenho aula e, provavelmente por saber disso, lá vem você querendo dar o ar da graça. Eu não preciso mais de você. Aliás, eu acho que você deveria era vir aqui torcer a minha calça que ainda tá encharcada até agora.
Olha, Pedro, ontem foram as últimas gotas. Fique sabendo que daqui uns dias meu carro chega e eu vou fazer questão de esfregar nessa sua cara lavada que eu não preciso ser mais uma vítima dos seus xiliques chuvosos. E, se eu alcançar, termino de quebrar meu guarda chuva em você.
Passar bem.



sexta-feira, 6 de novembro de 2009

I've got sunshine on a cloudy day.


Não sou acostumada com monotonia. Nunca fui. Lembro que desde a época de escola quando alguma coisa começava a se tornar repetitiva demais eu já reclamava. Era sempre o mesmo cheeseburguer, sempre a mesma Coca e sempre o mesmo Chokito na hora do lanche. Eram sempre as mesmas pessoas na lotação de volta pra casa. Sempre os mesmos papos... e eu, no auge dos meus grandiosos 16 anos, pensando que um dia tudo isso mudaria. Pensava que, quando eu crescesse, não iria ter a obrigação de suportar as mesmas pessoas todo santo dia, nem os mesmos papos chatos, nem nada de coisas que fossem tão repetitivas.
Terminar logo o colégio era a minha salvação pra me livrar de tudo aquilo. Eu tinha só 16 anos, pros 18 ainda faltavam 2, e eu achava que tinha muito o que estudar/namorar/passear até ter idade suficiente para arrumar um emprego de gente grande.
Agora, com 21, mesmo não tendo o salário de gente grande que eu prentendia, tenho um emprego que me mostra todos os dias o quanto eu cresci e amadureci. Não tem cheeseburguer na cantina, mal me sobra dinheiro no final do mês pra sequer comprar um Chokito, as pessoas mudaram, e eu que reclamava tanto por ter que aguentar as mesmas caras no colégio, hoje não sei o que fazer quando tenho que pegar o tal do 160, todos os dias, sempre às 9:40.
Acho estranha essa situação de conhecer as pessoas, mas não saber o nome delas. Saber o tipo de roupa que elas gostam de usar, e nem sequer saber onde elas trabalham. Sentar ao lado delas e nem dar bom dia mesmo que elas não sejam pessoas estranhas.
Por acordar atrasada quase todos os dias acabei trocando o 160 pelo 825. Achei chato. Além de me cobrarem R$1,00 a mais não tem as pessoas que eu conheço. Após uns meses sem o 160 na minha vida, e com uns reais a menos no bolso, consegui ajeitar meu horário. Quando consegui pegá-lo novamente, achei engraçado que, assim que entrei no ônibus, o rapaz da mochila vermelha olhou pra mim e deu um sorriso como se dissesse "ei, você ainda pega esse ônibus".Ele não sabe meu nome, eu não sei o dele, muito menos o da moça que sempre senta na frente dele, mas é estranho e feliz ao mesmo tempo saber que as pessoas parecem sentir a sua falta sem nem ao menos te conhecerem.
No metrô também sempre foi assim. 17:20 e as mesmas pessoas esperando o mesmo vagão de todos os dias. Há muito tempo não via o senhor da mochila preta que sempre desce atrasado na estação dele, nem a moça que parece irmã de uma amiga minha, nem o menino que tem cara de inteligente e que eu sempre tenho a impressão de que ele deve ser meu concorrente no vestibular.
Na quarta o senhor estava lá e me olhou com uma cara de quem não me via há muito tempo. Quando sentei e olhei pra fora, vi o menino com cara de inteligente e, antes que eu fosse embora, ele olhou pra mim e sorriu.
E, mesmo não conhecendo essas pessoas, nem sabendo o nome delas, tenho achado uma graça que a vida seja realmente tão estranha a ponto de nos permitir fazer diferença na vida de quem a gente menos imagina.