domingo, 5 de julho de 2009

Observe eu não me importar.

Estou ficando velha. Fato. Chego à essa conclusão não por querer ter minha casa, nem por pensar em começar a construir minha família, nem por querer um relacionamento sério e duradouro com alguém com quem eu realmente possa encher a boca pra chamar de meu.
Antes fosse pelos meus míseros 21 anos ou só pelas cobranças que as pessoas depositam sobre mim sem nem ao menos perguntarem se eu suporto tamanho fardo. Pra mim, quando começamos a dar valor demais a determinadas coisas e aceitamos abrir mãos de outras sem nem ao menos perguntar a nós mesmos o porquê disso, a conclusão é só uma: velhice.
Sempre observei demais as pessoas. E, por observar demais, sempre enxerguei coisas que ninguém nunca viu; sempre suportei certas futilidades que, hoje, não consigo armazenar de forma lógica. Por observar demais nunca me permiti ser tiete de carinhas com perninhas e bracinhos cheios de tatuagens.Não que eu nunca tivesse achado aquilo tudo muito bonito, mas nunca me agradou que, no meio de todo aquele monte de tinta, o cérebro - parte principal pelo menos pra mim - continua branco como papel.
Velhice. Já não me importo mais quando conto nos dedos as pessoas que realmente têm importância na minha vida e não me assusto quando vejo que a quantidade delas não chega nem a completar os dedos da outra mão.
E, no ônibus, ao invés de prestar atenção em carinhas bonitinhos,ando prefirindo olhar pra fora e, mesmo com todo aquele engarrafamento,continuo alimentando a idéia de que eu preciso de um carro.
Foi-se o tempo em que eu faltava morrer quando começava a me ver sozinha ou quando não ia ter pra onde ir no fim de semana, nem com quem ir. Foi-se o tempo em que as pessoas que saem da minha vida me faziam falta. Hoje enxergo que aqueles que voltam pra mim, ao invés de me pertencerem, voltam porque são dignos de me terem por perto.
Talvez o meu problema sempre foi me importar demais com as pessoas. Me importar até mesmo sem nunca saber o porquê disso. Ou eu não gosto de verdade, ou eu gosto por uma vida inteira. E, por gostar por uma vida inteira, quebrei e continuo quebrando a cara muitas e muitas vezes.
E nessa de ir e vir, de querer sumir e voltar, de gostar demais e odiar, minha nova velhice ao menos me serviu pra fortalecer o que já me pertencia: a boa e velha indiferença. Não que eu goste de usá-la com quem realmente me importa. Mas, quando é preciso, dou uma de vovó e banco a indiferente sim.
Não pra machucar... O bom disso tudo é ver que a minha indiferença incomoda. E como incomoda!


8 comentários:

.Intense. disse...

Gostei tanto, assino embaixo. E confesso, sinto certa inveja, pela indiferença...talvez pq esteja começando a sentir assim agora, mas ela ainda não me pertence - mesmo que eu tente, escapa pelos dedos e me foge. E, olha...eu posso treinar, pra te alcançar...sou um ano mais velha.rs

;)

e, te falo: já já estaremos com nosso carro...

Daniel disse...

Realismo é cinza, às vezes...
Sofri muito com isso no passado e hoje tenho poucos amigos, mas sou tranquilo com isso porque sei que tem alguma coisa errada com o pensamento da gigantesca maioria das pessoas por aí =P
Talvez eu seja um estranho do seu tipo, talvez eu seja de ainda um outro tipo... vai entender essa vida... talvez o lance seja se equilibrar mesmo.. atualmente, é a parada mais sensata que eu vejo =P

Paz... disse...

"Talvez o meu problema sempre foi me importar demais com as pessoas"...
até parece frase minha... e sabe, as vezes me sinto velha qdo nao quero sentir e pra falar a verdade nao quero ficar velha nunca...
mas a indiferença... ahh qdo é necessário essa é velha companheira.

Carla disse...

apenas visitando (:

subterfúgios mentais disse...

O engraçado é que ontem em quanto lia o que post,percebi o quanto a minha indiferença incomodava os outros.
Com o tempo espero que um dia consiga também parar de me desesperar tanto com a frase "Ficar sozinha"

Anônimo disse...

Eu me vi nessas ultimas frases do seu texto. Indiferença e preocupação e velhice. E eu só tenho 19 anos.

Gostei muito do seu blog. Vou linkar.

Renata disse...

Eu também aprendi cedo que a indiferença incomoda.

Sobre velhice, eu prefiro dizer que é amadurecimento. E sabe, essa coisa de perceber o redor, pensar no que agora você vê diferente, não pára por aí. Eu tou saindo da casa dos 20 em constante pensamentos, reflexões, mudanças. Parece que você vê o mundo de uma perspectiva paralela. Isso ou é amadurecimento, ou é loucura mesmo.

Beijo.

Bruno Cazonatti disse...

Sensacional, mocinha! Maravilhoso!
Beijos meus
Bruno
http://acidopoetico.wordpress.com