Hoje, no tumulto da rodoviária, uma velhinha furou a fila e entrou na minha frente. Achei graça por ela ficar disfarçando pra ela mesma o que todo mundo tinha visto. De cinco em cinco minutos ela olhava pra minha cara, talvez pensando "será que ela não vai falar nada?", e eu a olhava com uma cara feia de uma criança de 2 anos e meio mas não conseguia mandá-la ir para o final da fila.
Não sei se foi o tamanho cansaço que me impediu de falar, ou meus tímpanos quase estourados por causa da minha música preferida que tava tocando na hora, ou se foi Deus que calou a minha boca para que eu não começasse a falar um monte de asneiras para aquela velhinha furona de fila.
Depois de meia hora em que ela não aguentava mais olhar para mim, ela se virou e me pediu desculpas por ter entrado na minha frente. "Eu não vi que a fila terminava lááá atrás". É claro que ela tinha visto, é claro que ela sabia que ela tinha feito uma coisa errada... mas o sorriso que ela me deu ao me pedir desculpas me fez perder toda a vontade de falar umas boas para ela. "Tudo bem", eu disse. E dei um sorriso de volta.
Hoje eu tive todos os motivos do mundo para dar um xilique no trabalho e, definitivamente, jogar as cartas na mesa por não aguentar mais trabalhar tanto por tão pouco. Eu não aguento mais. Mas, ao mesmo tempo, é tão intensa a voz que eu ouço dentro de mim me dizendo para ser forte mesmo que eu continue me desmanchando em prantos feito um bebê.
Hoje eu consegui sorrir para a pessoa que eu menos suportava na vida. E foi um sorriso tão sincero que se eu tivesse que repeti-lo não conseguiria.
Hoje eu ganhei um presente de quem eu menos esperava. Ajudei quem precisou de mim. Agradeci imensamente pela vida que eu tenho, mesmo com todos os problemas, com todas as frustrações e cansaço acumulado. Hoje eu aprendi de uma só vez tudo aquilo que as pessoas que eu mais amo já me falaram a vida toda...
Mesmo com o céu nublado e um dia não tão bonito eu não sei como consegui enxergar tantas cores. E, por mais que as pessoas sejam erradas, a única coisa que eu quero é lembrar delas por coisas boas que me fizeram. Tudo já foi muito cinza por aqui. E, cinza, a gente joga no mar, onde há cores, onde há vida!
É dezembro, e não tem nada de espírito natalino. Se isso não se chama Deus, não me ensinaram outro nome.