Estou ficando velha. Fato. Chego à essa conclusão não por querer ter minha casa, nem por pensar em começar a construir minha família, nem por querer um relacionamento sério e duradouro com alguém com quem eu realmente possa encher a boca pra chamar de meu.
Antes fosse pelos meus míseros 21 anos ou só pelas cobranças que as pessoas depositam sobre mim sem nem ao menos perguntarem se eu suporto tamanho fardo. Pra mim, quando começamos a dar valor demais a determinadas coisas e aceitamos abrir mãos de outras sem nem ao menos perguntar a nós mesmos o porquê disso, a conclusão é só uma: velhice.
Sempre observei demais as pessoas. E, por observar demais, sempre enxerguei coisas que ninguém nunca viu; sempre suportei certas futilidades que, hoje, não consigo armazenar de forma lógica. Por observar demais nunca me permiti ser tiete de carinhas com perninhas e bracinhos cheios de tatuagens.Não que eu nunca tivesse achado aquilo tudo muito bonito, mas nunca me agradou que, no meio de todo aquele monte de tinta, o cérebro - parte principal pelo menos pra mim - continua branco como papel.
Velhice. Já não me importo mais quando conto nos dedos as pessoas que realmente têm importância na minha vida e não me assusto quando vejo que a quantidade delas não chega nem a completar os dedos da outra mão.
E, no ônibus, ao invés de prestar atenção em carinhas bonitinhos,ando prefirindo olhar pra fora e, mesmo com todo aquele engarrafamento,continuo alimentando a idéia de que eu preciso de um carro.
Foi-se o tempo em que eu faltava morrer quando começava a me ver sozinha ou quando não ia ter pra onde ir no fim de semana, nem com quem ir. Foi-se o tempo em que as pessoas que saem da minha vida me faziam falta. Hoje enxergo que aqueles que voltam pra mim, ao invés de me pertencerem, voltam porque são dignos de me terem por perto.
Talvez o meu problema sempre foi me importar demais com as pessoas. Me importar até mesmo sem nunca saber o porquê disso. Ou eu não gosto de verdade, ou eu gosto por uma vida inteira. E, por gostar por uma vida inteira, quebrei e continuo quebrando a cara muitas e muitas vezes.
E nessa de ir e vir, de querer sumir e voltar, de gostar demais e odiar, minha nova velhice ao menos me serviu pra fortalecer o que já me pertencia: a boa e velha indiferença. Não que eu goste de usá-la com quem realmente me importa. Mas, quando é preciso, dou uma de vovó e banco a indiferente sim.
Não pra machucar... O bom disso tudo é ver que a minha indiferença incomoda. E como incomoda!